domingo, 10 de janeiro de 2010

Mudei.

Hand In My Pocket

Mão no meu bolso - Alanis Morissette


Estou dura, mas feliz
Sou pobre, mas gentil
Sou baixinha, mas saudável
Estou viajando, mas estou de castigo
Sou sensata, mas subjugada
Estou perdida, mas tenho esperanças
E a que tudo isso se resume?
É que tudo ficará bem, bem, bem
Porque tenho uma mão no meu bolso
E a outra está tocando na sua
Eu me sinto bêbada, mas estou sóbria
Eu sou jovem e ganho mal
Eu estou cansada, mas estou trabalhando
Eu me importo, mas não descanso
Eu estou aqui, mas na verdade, já fui
Eu estou errada, me desculpe
E a que tudo isso se resume?
É que tudo vai ficar até bem
Porque eu tenho uma mão no meu bolso
E a outra está acendendo um cigarro
Eu sou livre, mas me concentro nos objetivos
Eu sou imatura, mas sou esperta
Eu sou durona, mas sou amável
Eu estou triste, mas estou rindo
Eu sou valente, mas uma covarde
Eu estou doente, mas sou bonita
E a que tudo isso ferve?
É que ninguém conseguiu entender direito ainda
Eu tenho uma mão no meu bolso
E a outra está tocando piano
E a que tudo isso se resume, meus amigos?
É que tudo está simplesmente bem, bem, bem
Porque eu tenho uma mão no meu bolso
E a outra está chamando o táxi...


Fui.


O "fui" e a tradução, fui eu que fiz, baseado nas minhas impressões. É porque o povo que traduz pro "Letras.terra" não tem o menor senso poético. E o fui? Bom, uma mão está chamando um táxi né? Eu acho que ela cansou de se explicar, e foi embora. Eu também. =)

sábado, 9 de janeiro de 2010

A Corrida.

Hoje eu vou escrever um texto sem estilo, meio que sem objetivo, sem ordem, sem começo meio e fim. Serão, na verdade, várias palavras entulhadas, que eu preciso que saiam de mim.
Então eu saí do computador porque eu precisava sair. Uma gota ou outra caía, e ultimamente eu não tenho me importado com a chuva. Ela impede que os outros, na rua, vejam as lágrimas.
Pra quem não sabe, eu moro NA FRENTE do cemitério, então basicamente pra qualquer lugar que eu vá, passo por ele. Estava eu então indo para o bosque correr, que é o que eu faço quando a vontade de explodir é muito grande, e passei na frente de uma capela que tem ali. Era bem a hora em que levariam o caixão para o cemitério. Expressões tristes, as crianças achando tudo aquilo estranho e engraçado, os jovens amaldiçoando terem perdido o sábado e, dos poucos que ainda se importavam com o motivo real pelo qual estavam lá, uns conversavam animados com os parentes de longe, que nunca viam, e outros choravam desconsolados. Dez passos a frente, uma floricultura. O contraste entre as matizes de cinza da morte e as centenas de cores das flores me surrupiou alguns segundos de pensamento.
Continuando o caminho, já quase chegando no bosque, um cara de uns vinte anos sentado na calçada. Eu procuro nem olhar porque né? Enfim. “Nossa, que delícia”. É o que eu tenho que ouvir quando o meu mundo ta caindo na minha cabeça. Adoro ¬¬. Dois passos depois, um fiu fiu de alguém que eu sequer me virei pra ver. Finalmente cheguei e resolvi que ia correr o mais que podia. Sempre via os “verdadeiros atletas” correndo naquela subida super íngreme e resolvi que hoje era o dia de tentar. Eram pouco mais de um quilômetro, que eu sabia que pareceriam uns três. É assim comigo, tudo é três vezes mais difícil, mais sofrido, pior do que é com os outros. Mas aí eu olhei para o chão ao invés de olhar para o fim da subida. Um pé, depois o outro. Achei melhor assim, talvez chegasse mais rápido. Pensei que talvez fosse mesmo assim, abrir os olhos de manhã e pretender apenas aquele dia e nada mais. Planejá-lo e somente ele, esperar tudo, mas somente dele, querer tudo o que se pode conseguir, mas somente nele. Quem sabe assim a espera pareça mais curta.
Enquanto eu pensava nisso, comecei a montar esse texto na minha cabeça. Claro que os pensamentos saíam confusos pelo cansaço e é óbvio que eu não vou me lembrar de tudo o que quis escrever, mas foi mais ou menos assim. Eu consegui terminar a subida, e minhas pernas ainda estavam ótimas. Ofegante, mantive o ritmo. Não é tão difícil assim.
Quanto consegui retomar o fôlego – quase um quilômetro depois porque eu estava andando rápido demais, o que não ajudava – voltei a correr. Depois de uns 800 metros, quando parei de novo, meu coração doeu. Parecia que estava tendo um ataque, talvez eu fosse mesmo morrer. Pensei no poema do Vinícius “E de te amar assim, muito e amiúde, é que um dia em teu corpo de repente hei de morrer de amar mais do que pude”. Eu sei, nada a ver, mas foi o pensamento que eu tive quando me veio à mente a morte. Desse poema, pulei pra um outro que eu decorei essa semana: As sem-razões do amor, do Drummond. É bonito, e real. Eu o recitei, na cabeça. De “sem-razões” que remete a “cem razões”, voltei a pensar em “Cálice”, “cale-se”, que a Pitty regravou. Eu passei a tarde tendo ataques histéricos com isso. Ridículo. Mas enfim.
Eis que eu não morri do coração, porque talvez ele tenha se acalmado com um poema que fale dele. Corri mais um pouco, até o fim. Pensei que talvez o corpo consiga mais do que pensa, quando a cabeça manda. Mas a alma se fere muito mais facilmente que o corpo, e essa, eu não sei até quando agüenta. Acabou o percurso e eu já atravessei a rua, porque o idiota da cantada ridícula ainda estava lá sentado na calçada. Evitei ouvir mais imbecilidades e fui rápido pra casa, porque olhei para os meus braços e eles estavam totalmente cheios de pequenas bolhas, de novo. Pensei que talvez eu devesse ir direto para o hospital, mas depois... O que me importa? Quem se importa? Eu não. Portanto...
Enfim, cheguei, tomei banho, pensando que talvez eu devesse sair hoje. Logo que terminei, de toalhas ainda, o celular tocou. Eu disse que sim, depois não. É, vou ficar em casa vendo filme e comendo pipoca de microondas porque a cota de chocolate e sorvete de hoje já está mais do que esgotada.
Sentei-me logo na cama para tentar me lembrar com o máximo de detalhes o texto que eu inventei durante a corrida, e até que consegui. A única conclusão que eu tirei é que eu não consegui fugir de mim, nem dos meus sentimentos. As bolhas ainda cobrem meu corpo todo, mas eu não vou ao hospital não, e fim. Não quero saber =). Eu nem sei se ainda vale a pena ser imortal.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Sentimentos guardados em caixinhas.

Dia desses, eu havia escrito aqui no blog um texto sobre caixinhas com lembranças. Enfim, ele diz que eu abri a caixinha e encontrei lá flores secas, fotos rasgadas, pedaços de passado. Mas este texto foi apenas simbólico. Eu ainda não havia encontrado a coragem necessária para abrir a caixinha de verdade.

Hoje, já pela manhã, descobri que teria um bom tempo para mim. Acordara cedo para assistir a uma entrevista qualquer na televisão e, desacostumada com o silêncio da manhã – ultimamente tenho passado esse tempo dormindo – fiquei sem saber o que fazer.

Acabada a entrevista curtíssima que me fez amaldiçoar a propaganda enganosa e, além de tudo, me concedeu mais tempo sozinha do que eu esperava, decidi permanecer em frente à tv e coloquei um dvd de música qualquer. O primeiro da estante. O “Multishow Registro da Ana”. Não consegui olhar mais de dois minutos pra tela. Só deu tempo de ver a Betha cantando AQUELA música, que me traz tantas coisas. Abaixei os olhos e me vi no reflexo do vidro da estante. Durante a infância, adolescência, nos momentos de tédio, aquele vidro sempre me mostrava uma garotinha tímida, pensativa, com tantos desejos que não deixavam a tarde ser mais azul. Hoje, ele me mostrou alguém que precisava de uns minutos consigo. Levantei-me e desliguei a televisão. Não fazia sentido ficar vendo aquelas imagens, ouvindo aquelas músicas... Nada mais faz sentido quando se trata de AC. Mas enfim... Voltei para o sofá, deitada novamente, olhando para o teto, dessa vez. Janelas fechadas, porque eu não quero aparecer. Nem pra mim.

Vivendo essa cena melancólica, sem nenhuma oportunidade de escolha, tive que começar a pensar. Reavaliar. Pensei que talvez eu devesse chorar. “É preciso a chuva para florir”. Sentia meu coração apertado, de novo, mas cheio, inundado. Era como se estivesse gritando por socorro, para que eu tirasse daqui de dentro os entulhos... Ele estava carregando coisas demais, mais do que poderia suportar. Mais do que eu conseguia suportar. Era hora de arrumar as gavetas.

Uma lágrima caiu quando eu pensei no que aconteceu. Uma vida apareceu, e mudou a minha. Fez com que eu me arrependesse de momentos felizes, só porque a saudade que veio depois era absurda demais. Saudade – decepção – saudade. E nem estou falando do namoro que eu terminei, porque, das coisas que me aconteceram em 2009, essa foi a menos importante.

Depois, pensei sobre como eu surgi na vida de alguém, e a alterei. Não sei por que eu fui surgir na dele, mas sei por que ele surgiu na minha. Ele, pra me fazer feliz. Eu não sei, mas acabei desarrumando tudo o que estava certo. Sinto, às vezes, o peso do meu egoísmo. Eu não consigo desaparecer para que as coisas voltem ao seu lugar. Cansada de confrontar essa minha impotência, saí do sofá, para deixar os pensamentos por lá. Resolvi, então, abrir de uma vez aquela caixa.

Não encontrei as flores secas, pois há muito eu as havia transferido para um outro potinho, o qual atirei ao lixo por não significar mais nada para mim. Fotos rasgadas, também não. Elas já estavam num álbum, que eu também ainda não tive coragem de abrir... E nem rasgadas ainda estão, pelo menos não fisicamente. Encontrei mesmo foram outras coisas. Lembranças de dez anos atrás, até hoje. Nenhuma delas apertou mais o meu coração do que as de amigos. As de amores, paixões, ou o que quer que tenham sido, traziam consigo apenas uma leve nostalgia, um cheiro de erro, um fim pra nunca mais. Já os amigos, ah... Se ficaram para trás, foram as circunstâncias. Ou então por erro meu, ou deles.

A primeira lembrança, mais antiga, é uma pulseirinha rosa escrito FRIEND, que a Paola me deu. Foi em 2000. Essa eu perdi pelas circunstâncias. Perdidas entre as centenas de papéis estavam cartas. Algumas que eu recebi, outras, que eu não mandei. Reli todas. Mais uma lágrima. Em uma carta que eu havia escrito, pegado na mão, mas não conseguira entregar, encontrei tanta verdade... Como eu poderia saber de tudo aquilo? Ela poderia ter sido escrita hoje, agora que eu já sei, e ainda estaria perfeitamente real.

Além dos papéis, caixinhas, conchinhas, chaveiros, cartões, uma pulseira (aquelas da Jade, lembra? Haha) quebrada, que a Erika me deu na quinta série, o certificado da crisma, o coração que eu roubei da decoração de uma festa, enfim... Muitas coisas. O que me deixou triste foi não ter lembrado de algumas delas. Eram embalagens de presente, pacotinhos de bala, adesivos que alguém me deu. Procurei em todas as paredes da memória, mas não consegui. Outra lágrima, porque se eu coloquei esses objetos lá, é porque achei que me lembraria pra sempre, e não lembrei. Tenho medo de esquecer. Eu poderia esquecer momentos, mas não os sentimentos... E de alguns, me esqueci.

De coisas absurdas, entretanto, me lembro. Um copo de plástico cortado em franjinhas e pintado com caneta bic. Lembro-me que isso foi num congresso, na faculdade, uma noite dessas. O Wesley fez pra mim. 2008. Eu lembrei. Ele? Nossa amizade? Vítima das circunstâncias.

E assim foram tantas outras recordações revividas na minha cabeça. As sombras de um passado que me fez tão feliz, tão triste. Que foi meu professor e ainda é. Mas não me impede de errar... A diferença é que, agora, eu erro sabendo. Mas sei também que se esses erros de hoje me fazem sorrir à toa, andando na rua, quando eu leio um nome na calçada e me lembro, é porque valem a pena serem vividos, e errados, e mesmo que venha depois o choro, a decepção, o lamento, eu sei que não virá o arrependimento.


segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Reaprender a sonhar


O que mais eu poderia supor de alguém
Que por tantas e longas vezes
Prometera me fazer feliz?
Que me deixara em prantos
Por entre quimeras, esperando
Tentando desvencilhar o real do imaginado
Ou o imaginado do real
Ou quanto disso tornar-se-ia realidade.
Que tecera comigo todos os meus passos
Venceu caminhos, superou abismos
Que, antes de dormir, escutava a nossa canção.
Nada mais eu haveria de querer
Além de dormir presa nos braços daquele
Que por tantas e longas vezes
Prometera jamais soltar a minha mão.

O que eu poderia supor?
Talvez que isso não passe de caminhos imaginados
Que simplesmente não vale essa forma de amor
Porque trata-se de trilhas sem fim, sem conquistas

Ou talvez eu tenha aprendido a voltar a sonhar
Sem me perguntar se vale a pena, porque já valeu:
Foi ele quem me tirou os pés do chão
E o mundo visto daqui, de cima das nuvens, é lindo. E só nosso.





sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Primeiro dia do ano.

Hora de pensar no que vamos deixar de bom, e o que vamos mudar, e o que vai sair da nossa vida, o que vai ficar.

Passei o reveillon dormindo, bêbada. Claro, que graça tinha?
Enfim.

Deixei pra trás um amor errado, arrumei uma paixão ou outra. Alguma verdade tinha nisso tudo, no meio da brincadeira.
Conheci pessoas que valiam a pena, deixei outras de lado, por não valerem mais. Ou porque foram vítimas das circunstâncias.

Se tem uma coisa que eu aprendi é que podem acontecer coisas boas com a gente, quando menos se espera. Mas é tudo muito relativo. Vi que aconteceram coisas boas que acabaram sendo ruins no final... Achei que jamais seria tão feliz, e o fim foi miserável. Bom, mas tudo que vem, vai na hora certa, e eu tive que tomar decisões pra não trazer pra esse ano coisas que não podiam vir. Dor dá e passa.


Enfim, eu não vou fazer retrospectiva nenhuma, nem prometer coisas de mais.
Só digo que a cada ano aprendo a conviver mais comigo e com as pessoas, e continuo cometendo erros, mas sabendo como lidar melhor com eles. Ainda sou muito feliz em poder dizer que, aos dezenove, só me arrependo do que não fiz.

Último dia do ano.

O mar e sua revolta me lembram o que eu tento esquecer: as ondas de dentro do meu peito, que vêm fortes, com o vento, querendo saltar pra longe de mim. Não me cabe tanta angústia. Hoje é o último dia do ano, o que me faz relembrar o que passou. Me recordo exatamente esta hora, um ano atrás. Éramos outros. Ainda somos os mesmos, mas um pouco mais feridos. Eram sorrisos que hoje são substituídos por outros, com outras causas, outros motivos, outros espectadores.

Há um ano, era outra praia, mas o mesmo mar, com outras nuvens, as mesmas ondas. Os mesmos medos. Outros desafios. Outras tantas dúvidas, diferentes das que me corroem hoje, porque eram outras certezas. Hoje não há certeza alguma, apenas sentimentos... E eu espero. Não sei se acontecimentos ou o fim. Fim do que nem é ainda real.

Passei a tarde no quarto - a paisagem não me convidou, por hoje. Eu, meu violão, metade de um livro desistido porque pensamentos me tomaram de suas idéias. O frio era dentro do meu corpo, e por fora um vento ríspido me levava a ficar em encolhida, como um bebê desprotegido das coisas que vêm de dentro. Pensei em você. E as nossas músicas tocavam repetidamente, como trilha sonora desse temporal de medos.

A insegurança é quem me faz sentir sozinha, junto com uma dose de realismo. E aqui vinham os dois juntos, entrando porta adentro e me tomando num suspiro. Deixo o violão mudo por uns tempos, até que os acordes se encaixem em si mesmos, que a minha vida se encaixe na sua, ou retorne a mim. Talvez não haja amanhã, nem acontecimentos, nem fim, nem começo. A volta é sempre a mesma, e não conseguir mais ficar sem você pode ser mesmo uma constante, que não depende de mim alterar. Só espero que a chuva passe, a calmaria lá no mar traga pelos meus olhos alguma calma.

Hoje é o último dia do ano, e a companhia que eu esperava não está aqui, nem perto dos olhos, nem perto do coração. Há um ano, havia alguém ao meu lado, mas a solidão era a mesma de hoje, e a de sempre, porque simplesmente não há nesse mundo - ou à minha vista - quem me complete.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

É o que sempre muda.


Eu tive medo, e até perguntei demais. Nunca foi meu sonho andar por caminhos desconhecidos, tentando adivinhar quais seriam os próximos passos de alguém. Eu sempre fui inconstante, mas meus planos têm alguma constância, e se os sentimentos vão e vêm, eu sei bem quando a decisão é definitiva. Eu gosto de conhecer o amanhã e, mesmo que eu não espere a sua companhia, você não podia tê-la prometido - porque eu acreditei. Me acostumei a você, à sua voz me acordando, seus dedos enrolando meus cabelos, um beijo de bom dia, não sair da cama até que alguma urgência nos arrancasse de lá... Antes, você não queria fugir. O que mudou é o que sempre muda, você me saber sua.

Me sinto alagada, sem ter por onde escapar. Você me prende, quando me deixa à sua espera, quando me solta, livre. Quando volta, ciúmes. Amor renovado que vislumbra promessas, estas, nem precisam ser ditas. Palavras não se comparam aos motivos que tenho para acreditar. Mesmo assim, você diz. Eu acredito mais uma vez e crio pretensões, mas será que as suas são reais? Quando os devaneios recomeçam, olho para o lado e lá se vai você, mal posso enxergar suas mãos dizendo adeus, e olhos molhados me dizendo para esperar. Mas sei que estão lá, ou quero que estejam... Não importa, sim, estão sim. Você me disse. Ah... Aqui estou eu, voltando às promessas.

Eu não consigo me libertar, porque você ainda se mantém meu mesmo na ausência, seus sonhos entrelaçam-se aos meus quando se encontram, num tempo diferente desse aqui, que não passa de dias que se demoram a passar. Dias estes que ainda não fazem sentido, enquanto não houver sua mão na minha. Quem sabe os segundos se arrastem rumo ao eterno, depois de selados nossos juramentos. Espero suportar essa saudade e ainda sentir suas mãos nos meus cabelos com o sussurro de bom dia, por todas as manhãs, até você voltar.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Essa vai pra um certo alguém.



Até que ponto superar?


Sentei-me na cama, sua foto no painel, me deu vontade de arrancar.
Um livro já terminado em cima da mesa, eu com preguiça de guardar.
Celular desligado, não é para ninguém me ligar.
Uma música no rádio, me esperando pra cantar.
O violão num canto vazio, vazio está o som aqui.
Travesseiros espalhados fazem prova de que eu não consegui dormir.
O computador ligado, a tela em branco olhando para mim.
As palavras jorrando pelos poros, e por que me sinto assim?
O céu ainda está convidativo, dá vontade
De deitar na grama, esquecer da minha idade
Ver os desenhos nas nuvens, apagar toda a cidade
E de olhar a olhar, procurar a verdade.
Acho que preciso de um encontro com a paz
Aquela que se foi com você, pra nunca mais
A pomba voa por aí, e eu vou atrás
Buscar no teu sorriso a calma que só ele me traz.




E a nuvem me sorriu. E você sorriu pra mim.
E então, eu consegui sorrir pra mim.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Momentos

Eu caminhava a passos lentos, distraídos, como quem sabe onde encontrar-se com o destino, mas deixa-o lá, esperando a hora certa. Milk shake numa mão, na outra uma sacola com discos que havia acabado de comprar. Nada melhor do que discos novos para acabar com os velhos sentimentos. Sentia apenas o ar quente no rosto; nos meus ouvidos, Isabella Taviani cantava suavemente - talvez houvesse até uma pitada de resignação na sua voz - que tinha mais o que fazer do que se enganar. Eu sempre fui vista como realista, alguém que não tem medo do futuro simplesmente porque não espera nada dele... Mas isso é apenas uma casca. Um modo de me defender das decepções que eu sei que surgirão. Não me engano para não me arrepender de ter esperado demais. Nada de anormal – as pessoas decepcionam, os sonhos mudam de lugar. De vez em quando, temos que varrer a casa, achar uma foto no canto da gaveta, colocá-la de volta álbum de retratos, sorrir pra ela e lembrar que esta simples lembrança não mais machuca, porque é assim que as coisas são. Todo corte que sangra e dói vira uma cicatriz. Pode demorar demais, ou então pode acontecer de ela simplesmente não ser desejada. Algumas pessoas não conseguem conviver com as marcas do seu passado, simplesmente por considerá-lo todo errado... Mas só porque as coisas deram errado no final, não deve querer dizer que foi tudo um erro... Erros são pela metade. Se fosse tudo um erro, não haveria sorrisos.
O que é mágico na nostalgia é saber que há uma lembrança boa escondida em algum lugar do passado. Ela é um misto de sensações... Sentimentos bons e ruins que se fundem num só: ter existido valeu a pena.
Enfim... Estava lá eu divagando pelas paredes da memória quando percebi que meu olhar acompanhava o carteiro. Ele devia passar por lá todos os dias, e certamente não notava as rosas no gramado da casa onde entregava a correspondência. O meu dia era diferente, era uma promessa de mudança de sons e conseqüentemente de ares, de humor, de pensamentos. Já ele, fazia seus movimentos como se fosse máquina, sem precisar pensar em nada. Ou então pensava na filha, na esposa. Talvez na amante. Talvez no limite do cartão... Quem é que sabe? Tantas pessoas interessantes podem passar por você, mas você não teve tempo de saber. De casa em casa, carta em carta. Cartas contêm segredos. Há coisas que só cartas podem dizer.
Enfim, chegou a vez de uma casa com o portão branco, daqueles vazados, um jardim bonito, sem carro na garagem – deviam estar todos trabalhando, estudando, viajando... E um cachorrinho minúsculo. O som alto me impediu de ouvir o latido, mas meus olhos o captaram. O carteiro simplesmente parou e ficou olhando para o cachorro, imaginando uma forma de enfiar logo a carta na caixa de correio, a pressa devia ser grande, mas não podia arriscar a mordida. Claro que uma mordida de um cachorro daquele porte não era algo que se pudesse temer, mas... Talvez o carteiro quisesse evitar inconvenientes. Dessa vez, ele teve que mudar o gesto robótico que fazia. Com destreza, primeiro abriu a tampinha com uma mão, olhou para o cachorro, esperou que ele pulasse, já tirando a mão. Assim que o cãozinho chegou ao chão, ele jogou a carta lá dentro. Quase não deu tempo!
Quando dei por mim, já estava quase errando meu caminho. Minha boca esboçava um sorriso, sem que eu tivesse percebido... Eu não conseguia entender o porquê de um sorriso depois de um dia tão complicado como o que eu tivera, nem como eu havia mudado minha expressão sem sequer notar... Mas há pequenos momentos, que na verdade não têm significado algum, não remetem a nenhuma boa lembrança, não trazem uma alegria racional; esses momentos têm nome: vida.